Resenha do livro: O Caso de Charles Dexter Ward – H. P. Lovecraft e Uma Introdução ao Terror

Eu vivo terror desde que me conheço por gente. Cresci amedrontado com a idéia de que um monstro poderia estar à espreita atrás da porta. Da certeza de que se fosse a um cemitério os mortos começariam a ser erguer dos túmulos, um por um. A desconfiança de que a qualquer momento poderia surgir um assassino serial pirado com uma serra elétrica e realizar uma matança e que um vampiro conspirava contra a humanidade na Transilvânia. De olhar no espelho e ver refletido ali um espírito. Isso me acompanhou por tanto tempo que apenas pra mijar no banheiro no meio da madrugada eu precisava ligar todas as luzes da casa.

O que poucos sabem é que nos tempos antigos o gênero terror (hoje sempre popular, independente da mídia) simplesmente não existia. O sobrenatural era tão normal quanto o natural, quanto o Sol nascer pela manhã e se pôr ao fim da tarde. As entidades eram sempre ligadas à religião ou à mitologia. Vampiros já existiam nos Vedas, Ulisses consulta os espíritos de Aquiles e seus companheiros em Odisséia, o Lobisomem era motivo de riso em Satiricon e Shakespeare se servia de espíritos e bruxas para representar a devassidão humana e agradar o público. Estes seres não eram vistos como ficção ou superstição e sim como pertencentes ao mundo real, com a garantia da vitória no final dada pela Igreja. O que se tornou costume também nos contos de fadas.

A própria noção de medo era diferente da de hoje. Era confundido com covardia. Os que tinham medo eram ridicularizados e a coragem era exaltada como a maior qualidade de um líder. De um homem. Os grandes heróis da literatura eram sinônimos de força, capazes de enfrentar os maiores perigos sem hesitar. Os reis e imperadores eram, ou faziam seus súditos acreditarem que eram, homens corajosos, sem temores. Mas já dizia E. Le-Roy Ladurei: “Sem o medo nenhuma espécie teria sobrevivido“. É o instinto que nos alerta do perigo eminente. Assaltados pelo medo, nosso organismo desperta forças inabituais. Corremos mais rápido e ficamos mais fortes.

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