Resenha do livro: Nas Montanhas da Loucura – H. P. Lovecraft

É uma pena, em primeiro lugar, que tenha sido cancelada a produção do filme feito com base em “Nas montanhas da loucura”. Dito isso, vou começar esta resenha falando um pouco sobre H. P. Lovecraft, sua obra e sua influência.

Howard Philips Lovecraft é um escritor de obras que seguem bem aquela linha do “ame ou odeie”. Seu estilo nunca primou por ser leve, sua narrativa adjetivada demais incomoda a muitos leitores contemporâneos, infelizmente. E digo infelizmente porque acabamos nos acostumando tanto com narrativas leves que corremos o risco de não mais apreciarmos outros estilos com o passar do tempo.

Quer você seja fã ou não, não há como negar a influência de H. P. Lovecraft e até mesmo seus passos muito importantes nas mudanças que as narrativas de terror foram sofrendo depois dele. Lovecraft criou, em suas obras, situações de um terror nefasto, de criaturas alienígenas e ancestrais do Cthullu Mythos.

Nesta nova edição de “Nas Montanhas da Loucura”, temos uma nova (e bela) tradução de Guilherme da Silva Braga, além de uma ótima introdução sobre o autor e apêndices interessantes: uma cara de Lovecraft sobre a obra em questão e um poema, no original em inglês e traduzido, “Antarktos” (além de sua prosa poética, Lovecraft também produziu poesias propriamente ditas), além das anotações do autor para o desenvolvimento de “Nas Montanhas da Loucura”, o que nos dá uma boa ideia de como desenvolvia suas obras.

Em apenas 14 linhas, “Antarktos” trazia os esporos dos vertiginosos pináculos antárticos, das meândricas galerias subterrâneas, das impressionantes Coisas Ancestrais e dos medonhos shoggoths, que mais tarde germinariam para dar corpo a “Nas Montanhas da Loucura”.

A narrativa em primeira pessoa, como de costume do autor, tem como objetivo fazer que nos aproximemos mais das sensações e emoções vividas pelo personagem principal-narrador. Cujo nome nunca é mencionado no livro, elemento este que não é tão incomum e tende a fazer com que as pessoas sintam mais ainda a identificação com o personagem, já que o próprio leitor poderia estar no lugar dele. E, nesta obra, o cientificismo é um dos elementos primordiais, com bastantes descrições técnicas, de geologia, biologia, só para citar algumas das ciências envolvidas. O cientificismo, mesclado à sensação de claustrofobia, além de outras sensações causadas pela existência de coisas estranhas e do medo que elas causam, perpassam cada linha da narrativa. Além disso, várias ramificações da ciência são usadas na narrativa, como, por exemplo, geologia, paleontologia, etc., o que dão um caráter realista a esta narrativa fantástica.

Ou seja, se você espera monstros surgindo por toda parte, a obra de H. P. Lovecraft pode lhe causar estranheza a princípio, pois o terror é visto em cada detalhe, desde uma pane em um avião ― aliás, um elemento bem de ficção cientifica, já que um avião era algo totalmente moderno para a época, para citar um exemplo.

Mesmo quem não é fã do estilo do autor deveria dar uma chance e tentar ler algumas de suas obras, pois elas são essenciais para a compreensão de muito do que surgiu depois dele. Lovecraft era uma espécie de pessoa e de escritor atípico, perturbado por sonhos aterrorizantes e que punha muito dele mesmo em suas obras, e daí vem o caráter altamente intimista de suas narrativas.

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Resenha do livro: O Caso de Charles Dexter Ward – H. P. Lovecraft e Uma Introdução ao Terror

Eu vivo terror desde que me conheço por gente. Cresci amedrontado com a idéia de que um monstro poderia estar à espreita atrás da porta. Da certeza de que se fosse a um cemitério os mortos começariam a ser erguer dos túmulos, um por um. A desconfiança de que a qualquer momento poderia surgir um assassino serial pirado com uma serra elétrica e realizar uma matança e que um vampiro conspirava contra a humanidade na Transilvânia. De olhar no espelho e ver refletido ali um espírito. Isso me acompanhou por tanto tempo que apenas pra mijar no banheiro no meio da madrugada eu precisava ligar todas as luzes da casa.

O que poucos sabem é que nos tempos antigos o gênero terror (hoje sempre popular, independente da mídia) simplesmente não existia. O sobrenatural era tão normal quanto o natural, quanto o Sol nascer pela manhã e se pôr ao fim da tarde. As entidades eram sempre ligadas à religião ou à mitologia. Vampiros já existiam nos Vedas, Ulisses consulta os espíritos de Aquiles e seus companheiros em Odisséia, o Lobisomem era motivo de riso em Satiricon e Shakespeare se servia de espíritos e bruxas para representar a devassidão humana e agradar o público. Estes seres não eram vistos como ficção ou superstição e sim como pertencentes ao mundo real, com a garantia da vitória no final dada pela Igreja. O que se tornou costume também nos contos de fadas.

A própria noção de medo era diferente da de hoje. Era confundido com covardia. Os que tinham medo eram ridicularizados e a coragem era exaltada como a maior qualidade de um líder. De um homem. Os grandes heróis da literatura eram sinônimos de força, capazes de enfrentar os maiores perigos sem hesitar. Os reis e imperadores eram, ou faziam seus súditos acreditarem que eram, homens corajosos, sem temores. Mas já dizia E. Le-Roy Ladurei: “Sem o medo nenhuma espécie teria sobrevivido“. É o instinto que nos alerta do perigo eminente. Assaltados pelo medo, nosso organismo desperta forças inabituais. Corremos mais rápido e ficamos mais fortes.

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Resenha do livro: Nocturnicon

Conjurando as Forças e os Poderes Negros

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Trevas… demônios… morte… vida… amor… sexo… mágicka… Nocturnicon, do mesmo autor do Grimório Gótico, é um guia supremo para o lado mais negro do universo mágicko.

O livro tem como case uma versão bem pessoal do autor, que alega ter feito uso dos métodos que compõem a obra para um trabalho de cura pessoal.

Além de compartilhar suas experiências e sensações, Konstantinos apresenta informações e rituais que incluem mágicka cerimonial, religiões de mistérios dos antigos gregos, energias caóticas, ritos da Doutrina de Hades e Necromancia, além de fornecer técnicas para trabalhar com as forças noturnas encontradas e já apresentada no Grimório Gótico. As práticas apresentadas neste livro, pelo autor e para o autor, provaram ser mais eficazes do que qualquer outra forma de mágicka praticada por ele em mais de 15 anos de estudo.

Neste livro você é convidado a explorar as técnicas e os ritos noturnos, ao mesmo tempo em que aprende a conjurar e a controlar as energias primevas, as formas – pensamento, entidades lovecraftianas, egrégoras, sigilos, além de outras forças noturnas.

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Resenha do livro: Necronomicon – As Peregrinações de Alhazred

madras_livro_18Autor: Donald Tyson, publicado pela Editora Madras.

Originalmente, o Necronomicon é o famoso (e, para alguns, infame…) livro proibido criado por H. P. Lovecraft, referenciado em quase toda sua obra literária. Ele é citado em diversas obras de outros atores, incluindo letras de músicas, videogames e filmes, como Evil Dead – A Morte do Demônio. Porém, ao contrário do intuito trash/B deste filme, nesta obra que assusta a muitos e atrai a outros tantos, Donald Tyson faz uma releitura perfeita e magnânima das idéias dos seres não-humanos que habitam a Terra…

Narrado por Abdul Alhazred*, um personagem fictício criado por H. P. Lovecraft, por intermédio de suas peregrinações, tomamos conhecimento de fatos que não parecem são absurdos, se analisados com uma mente aberta e um olhar atento aos detalhes.

A obra ainda contém inúmeras notas de rodapé, situando melhor ainda o leitor neste mundo magnânimo de seres míticos e elementos de nossa cultura e história. Monstros bíblicos que não se diferenciam nem um pouco dos seres dos Mitos de Cthulhu, o horror e o fantástico mesclado à realidade de forma espantosa e inebriante.

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